terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A TARDE LÍDICE REJEITA CRÍTICA AO PSB NA BAHIA

Como a senhora pensa sua atuação como senadora da República, a primeira eleita pela Bahia?
Minha atuação terá primeiro que buscar representar essa idéia de que sou a primeira mulher a chegar ao Senado pela Bahia. Eu terei que me dedicar às causas da Bahia, porque essa é a atribuição de um senador, cuidar dos interesses do desenvolvimento da economia baiana; mas também, em particular, nesta dimensão, daquilo que interessa à mulher baiana, seu desenvolvimento e seu direito. Exatamente para poder corresponder a esse título de ser a primeira senadora da Bahia.

E o que é que interessa à mulher baiana?
 O mesmo que interessa à mulher brasileira. Nós temos uma presidente mulher pela primeira vez no Brasil, que teve a ousadia de dizer algo simples, mas que ninguém nunca disse antes: que vai construir seis mil creches no Brasil.

Quantas dessas creches virão para a Bahia? Para quais cidades? Para atender a que tipo de população? Isso é uma coisa que interessa às mulheres baianas, porque a creche tema função educativa de atender às crianças, e possibilitará a que trabalhadores que não podem pagar creche particular passem a ter acesso à creche pública e permitam que seus filhos no futuro possam disputar em condições de igualdade com crianças de escolas privadas.

Mas também a creche pública é um equipamento extremamente libertador da mulher. Permite que a mulher possa sair, trabalhar, deixando seu filho bem cuidado, com atendimento psicológico e educacional.  Essa era uma das principais bandeiras do movimento de mulheres na década de 80.

As conquistas femininas avançaram ao longo dos oito anos de governo Lula?
Avançaram. Nós agora temos um Plano Nacional de Políticas Públicas para a Mulher, com metas a serem conquistadas em várias áreas – saúde, emprego, educação. Temos iniciativas, por exemplo,para garantir que com a Copa de 2014 o crescimento de empregos reserve uma determinada quantidade de vagas para as mulheres. Eu tenho um projeto de lei, que já foi aprovado em duas comissões, que garante que todo recurso gasto pelo FAT em qualificação profissional possa ter a mesma proporção da população em cada estado – o que significa que se temos na Bahia 52% de mulheres, cada curso de qualificação terá 52% de mulheres; e o percentual de negros também seria correspondente à população de cada estado. Na medida em que garantimos o ingresso da mulher no mercado de trabalho, os demais direitos vão vindo como consequência.

A questão do gênero perpassa a questão racial? A mulher negra é mais discriminada que a mulher branca e que o homem negro?
 Claro. Entre uma mulher negra e um homem negro se repete a relação de discriminação existente entre uma mulher branca e um homem branco; e está presente em todas as camadas sociais e nas diversas etnias.  Creio que o governo Lula avançou em outro importante assunto do mundo feminino que é a violência contra a mulher, coma aprovação e implantação da lei Maria da Penha. Foi um compromisso de direitos humanos que o governo demonstrou ter concordância em viabilizar.

A senhora foi a primeira prefeita mulher da história da cidade de Salvador e, agora, é a primeira senadora eleita pela Bahia. Qual desafio terá sido o mais difícil de encarar
?
Ser senadora será mais fácil porque, para começar, eu não sou a primeira mulher no Senado – sou a primeira mulher no Senado pela Bahia. Nós, inclusive esse ano, aumentamos a participação feminina no Senado Federal, o que facilita as coisas. Mas as negociações ainda são difíceis.

Na legislação eleitoral, por exemplo, pedimos 30% do fundo partidário para estímulo às candidaturas femininas, e só conseguimos 10%. Pedimos 20% do tempo de televisão, e só conseguimos 5%. As  conquistas são sempre homeopáticas quando se trata de uma negociação em que há 517parlamentares–caso da Câmara de Deputados – e destes somente quarenta e poucos são mulheres, ou seja, menos de 10%. 
Mas voltando um pouco na história, fale sobre a experiência como primeira mulher à frente da Prefeitura de Salvador, de 1993 a 1997.
Foi uma experiência fantástica, única na minha vida. Fui a primeira pessoa de esquerda a ser prefeita de Salvador na quadra dos últimos 30 anos. Eu não representei a elite de Salvador, mas as associações de bairro que ajudei a construir como vereadora e militante, os grêmios estudantis, os sindicatos livres, o movimento democrático da classe média e do operariado que lutou contra a ditadura. E isso aconteceu em circunstâncias extremamente desfavoráveis como grupo carlista no comando do governo estadual e com grande presença no governo federal, e com uma determinação clara de que aquilo não voltasse a acontecer.Além disso eu era uma mulher que havia enfrentado o machismo na esquerda, na direita e na sociedade. A discriminação aconteceu de várias formas, das mais sutis às mais ostensivas. Havia um jornal da cidade que não me chamava de “a prefeita”, mas de “a prefeitinha”, na desqualificação da minha condição feminina.  Porque nunca se chamou prefeito nenhum de Salvador de “prefeitinho”, fosse bom ou ruim administrador.

E muitos dos homens que estiveram no poder na Bahia, diga-se de passagem, eram bem baixinhos em sua estatura física; assim como alguns dos grandes ditadores da história eram bem pequenininhos e nunca foram chamados pelo diminutivo.

Quais marcas da sua administração a senhora considera que permanecem?
 Muita coisa permanece. O telefone 156, de comunicação da prefeitura coma população, é do meu governo. Obras viárias como as ligações Iguatemi-Paralela e Garibaldi-Lucaia. A profissionalização e modernização do Carnaval.  A Baía Marina, que não saía do papel por dez anos, nós fizemos, e isso deu início à revalorização da Cidade Baixa. A Fundação Cidade Mãe, uma obra social, também permaneceu – embora nenhuma administração depois da minha tenha dado a mesma dimensão de prioridade. Ligamos a primeira escola pública municipal do Brasil à Internet, no Marotinho; reorganizamos a carreira do professor da escola municipal, com salários dignos.

Celso Cotrim e Celsinho saíram do partido deixando no ar a queixa de que a senhora e o secretário Domingos Leonelli dirigem o PSB na Bahia com “mãos-de-ferro”, não deixando espaço para ninguém crescer . Como a senhora responde a isso?
 Esse é mais um mito que se criou na política da Bahia. Todas as decisões do partido são tomadas de forma colegiada com a participação dos integrantes da Executiva, que inclui nomes como Sérgio Gaudenzi e Capitão Tadeu. O afastamento de Celsinho foi uma decisão pessoal e unilateral, explicado por ele para cuidar da vida acadêmica, que nós lamentamos, mas respeitamos. Tenho grande consideração tanto por Celso Cotrim, político com larga contribuição nas lutas sociais, e por Celsinho.  O PSB está sempre aberto ao diálogo, postura que tem caracterizado o partido ao longo de sua história.

Como ex-prefeita de Salvador, como a senhora está vendo os problemas que a administração de João Henrique vem enfrentando?
É assunto delicado para falar. Porque eu saí do governo do prefeito João Henrique – que eu respeito, considero pessoalmente, mas de quem discordo profundamente do ponto de vista dos principais programas que dirigem a cidade de Salvador. No entanto, o prefeito se mantém numa articulação da base de apoio do governador; e eu prezo muito o senador João Durval, que me apoiou, que é seu pai, com quem tenho boas relações. Agora, obviamente, se eu fui vice na chapa de Walter Pinheiro, e conduzi meu partido para sair da administração de João, é porque discordo dela.

A senhora acha que a Bahia, com o volume de votos que deu a Dilma Rousseff, ficou bem representada no primeiro escalão do governo federal?
 Não, acho que não. Poderia ter tido uma representação maior. Mas acho também que não devemos nos concentrar nesses símbolos que não serão necessariamente os que irão permanecer como válidos. Se o governador Jaques Wagner, com sua capacidade política, obtiver da presidente Dilma o compromisso com os principais projetos de interesse da Bahia, ele terá feito muito, e com muita sabedoria. Acho, no entanto, que a presidente Dilma –independente de ser Wagner um gentleman, um homem de convicções democráticas profundas –, não é dado a ela o direito de desconhecer essa vitória e deixar de reconhecer que quem lhe deu essa vitória na Bahia foram as forças aliadas ao governador Jaques Wagner.

Na disputa pelos cargos do primeiro escalão a imprensa especulou ter havido uma “queda-de-braço” entre o governo Jaques Wagner e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que é presidente do seu partido, o PSB. Como a senhora viu isso?
Que eu saiba, não houve queda de braço alguma. Sei que o governador Jaques Wagner conversou todo o tempo com o governador Eduardo Campos, numa articulação muito sintonizada – que eles tiveram e continuam tendo.

Na composição dos ministérios a presidente Dilma quis preencher uma cota feminina. A senhora chegou a ser sondada para encabeçar algum ministério?
Não, não fui sondada para nada. A especulação foi dos meus amigos jornalistas.

A senhora tem plano político futuro de voltar a administrar Salvador ou ser governadora do Estado?
Não, não tenho plano para nada disso. Nunca planejei nada de uma forma estratégica, como muitos políticos fazem– e eu não acho errado. Não planejei ser senadora, ou prefeita de Salvador.  As coisas na minha vida foram acontecendo como consequência de determinado momento político, construções políticas que foram sendo feitas no caminho.

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